sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O caçador de Pipas



O caçador de pipas é desses livros que mexem com a razão e a emoção da pessoa. Não se trata da melhor literatura de todos os tempos mas sem dúvidas é literatura para marcar um tempo na vida de quem a lê. Uma história de amizade, de amor, de ressentimentos, de dor, de perdas irreparáveis e também de uma certa crueldade.
Mas é uma história mágica, encantadora, dessas que a gente gostaria que todos tentassem ler. Principalmente as pessoas de coração mais duro. Além desta visão filosófica da coisa, acho também interessante a forma como vamos descobrindo uma região que é explorada somente pela indelicadeza de suas guerras e abandono político.
 
 
 
"Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente a variação do roubo.
Quando você mata um homem, está roubando uma vida.
Está roubando da esposa, o direito de ter um marido,
roubando dos filhos um pai.
Quando mente, está roubando de alguém o direito
de saber a verdade. Quando trapaceia,
está roubando o direito à justiça [...]"
 
 
 
Ao começar a historia, mergulhamos em um Afeganistão, rico em paisagens, cultura, beleza, sem igual. É mesmo um aprofundamento. As imagens brotam em nossas mentes, sentimos o calor, as cores, o cheiro dos lugares, por sinal muito bem narrados neste livro.



A dorzinha desponta em algum lugar do coração quando explode a primeira bomba. Quase saltamos da cadeira, nos esquecemos que se trata apenas de um livro. É tão mágico e já estamos tão próximos dos personagens que se torna impossível não começar a sentir as suas dores. Os personagens, todos eles, são bastante fortes, apesar de todos parecerem estar numa constante corda bamba. Humanos, ao extremo é que são mesmo. Há medo de todos os tipos, explorações de todos os tipos. De adultos e de crianças, jovens e velhos. mas em especial, tudo que povoa a infância está neste livro. Desde os sonhos mais simples como ter uma televisão colorida, às lições de um pai duro mas com um coração do tamanho do mundo, até a exploração da sexualidade, abusos de poder físico, psicológico, religioso. Tudo está nestas poucas mas intensas páginas.

 
 
"Por você, faria isso mil vezes!"
 
Uma das frases mais importantes do livro,
que no filme quase, ou passa mesmo desapercebida


As lições são muitas. Aprender a admirar o Afeganistão foi uma destas. Valorizar as amizades então virou obrigação. Às vezes, em alguns momentos senti vergonha da pequenez humana, de sua mesquinhez, de sua auto idolatria, doenças da alma e do espírito pelas quais as vezes nos deparamos por aí. É um livro louvável. Inteligente, com um final bastante interessante e diferente do comum. O que também choca um pouco.
 
 
 
Ao se tratar do filme, fica aquela velha dica: "não venda seus direitos autorais aos americanos", eles com a sua mania de criar heróis e ídolos, acabam por maquiar a verdadeira face dos personagens, dando a eles uma faceta bastante aquém da verdade literária. De qualquer maneira o filme chega a encantar a quem não leu o livro. Para quem leu fica a vaziez de uma narrativa bastante grave e muito bem entoada que some em uma história de pequenos heróis e suas dificuldades.


 
 
 
 
 
 
 
 

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